09/11/2007

Kubitchec de Oliveira

O presidente do Brasil vinha a Portugal e visitava o Fundão, penso que a convite do Jornal do Fundão, um semanário com tradições de luta antifascista.
Eu tinha então 13 anos, estudava interna no colégio de religiosas Doroteias, na Covilhã.
Nada sabia do Brasil, nem do seu presidente e muito menos do que representava o Jornal do Fundão na vida política da minha terra.
A verdade é que as Doroteias, freiras educadoras, iriam festejar a vinda de tão ilustre personagem à Covilhã, uma vez que era à porta do colégio que o carro do visitante parava e iniciaria o percurso a pé, até ao pelourinho, onde faria um discurso.
Resolveram escolher uma menina entre as alunas, que iria entregar um ramo de flores ao presidente brasileiro e apresentar os cumprimentos do colégio.
Foi cuidadosamente enfeitada a entrada, mandadas vir as alunas com o uniforme dos domingos e encomendadas as flores. Depois foi escolhida a aluna que iria entregar as flores.
Fiquei admirada quando me escolheram. Ainda hoje não sei qual o critério que seguiram.
Na hora da chegada da comitiva, fomos todas perfiladas à porta do colégio e eu fui colocada ao meio, com as flores nas mãos.
Durante a espera, todas as minhas colegas queriam saber porque fora eu a escolhida e eu, ingenuamente, quase lhes pedia desculpa.
Depois de grande espera, com muita gente amontoada nos passeios, lá começamos a avistar os carros a que as pessoas acenavam com entusiasmo.
Nervosa, endireitei as costas e pus o meu melhor sorriso.
Os carros pararam mais à frente do que o que tinha sido estipulado e a multidão correu atrás.
Eu fui empurrada pela rua acima, com as flores na mão e sem quase pousar os pés no chão, por aquela gente toda, que queria ver e chegar perto do presidente.
A meio da subida para o pelourinho, lá me consegui libertar e sair da torrente que seguia os visitantes. Tinha perdido as flores e encontrado duas amigas que tinham sido também arrastadas e vinham divertidíssimas.
Resolvemos aproveitar aquela pequena fatia de liberdade e ir ao café Montalto comer um bolo e beber um sumo. Juntámos o pouco dinheiro que tinhamos e fizemos um lanche maravilhoso, com aquela multidão a fazer de cortina e o som dos discursos inflamados como música de fundo.
Por fim, lá resolvemos voltar para o colégio. Calámos a nossa aventura e fizemos alarde da desventura de termos perdido as flores e não termos conseguido apresentar as homenagens programadas.
Qual o meu espanto, quando no domingo seguinte, na 1ª página do Jornal do Fundão, lá estava a fotografia do presidente, a sua comitiva toda e nas mãos de uma das pessoas, o meu ramo de flores...
Vezes sem conta, nestes anos todos, dou por mim a pensar como teriam ido parar às mãos daquela pessoa, as flores que perdera nos empurrões pela rua acima.
Ainda pensei na hipótese de 2 ramos exactamente iguais... o que era bem difícil.
O melhor de tudo foi o lanche no Montalto, às escondidas das freiras.

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