29/05/2010

Despedida

Partiu para sempre a D. Lourdes, senhora que eu estimava muito.
Era um elo vivo à minha infância, às brincadeiras do recreio da escola.
Foi um olhar vigilante nos 4 anos em que aprendi as letras, as contas e outras artes.
Sempre que vinha ao Fundão e a encontrava, enchia a minha alma de doces lembranças.
Estava doente, mas tinha uma força fora do comum. Recusava-se a uma queixa ou a um "não consigo". Lutava contra tudo o que a tentasse derrubar.
Na última vez que a vi, estava triste. Chorou quando a abracei.
A incapacidade de permanecer só na sua casinha, obrigara o filho a optar pelo lar de idosos para não lhe faltarem todos os cuidados. Mas ela não estava resignada.
Estava doente, mas muito triste. Cortou-me o coração vê-la assim.
Penso na sua figura esguia e alta, no primeiro dia que a Amélia me foi levar à escola.
No dia 7 de Outubro de cada ano, salvo sábado ou domingo, a escola abria e quem tivesse completado 7 anos, lá ia aprender as ferramentas da vida.
A D. Lourdes, ali estava todos os anos, para receber as crianças.
Gostava de poder lembrá-la sempre com a desenvoltura daqueles tempos, mas a imagem que tenho mais presente, neste momento, é a que vi no último encontro, em que sentada na mesa da pastelaria, recebia os meus afagos com os olhos rasos de lágrimas, numa fragilidade comovente, numa tristeza infinda.
Mas sabia que morava no coração de todas as crianças, que durante várias décadas acompanhou na escola do Fundão.
Sabia bem que eu a estimava muito.
Obrigada. Até um dia!