29/06/2008

Surpresa!

Naquele tempo...
Eu vivia na minha terra e tinha muitos sonhos.
Dividia-os com algumas amigas, que eu estimava muito e que, tal como eu, seguiram os seus destinos com o coração cheio de esperança.
Tive hoje, depois de muito tempo, notícias de uma amiga desses tempos de espera e de decisões.
Espera, por ver concretizados os sonhos e decisões que ajudariam a vê-los realizados.
Sempre que ouço o nome da cidade em que esta amiga vive, lembro-me dela.
Sempre que penso naqueles dias, em que terminada uma etapa nos preparavamos para outra, a recordo e às nossas conversas, risadas e desabafos mais íntimos.
Nessa altura, as incertezas eram suplantadas pelas horas de felicidade, que traziam força para as afastar da nossa mente e abraçarmos os novos tempos com todo o entusiasmo.
Penso que as duas conseguimos encontrar o nosso caminho, embora de formas diferentes.
Ela é amada por 3 homens (fora outros, que a amam muito também e que recebem na mesma moeda), tem a sua carreira a avançar de vento em popa e está feliz.
"Quem acerta no casar, nada mais tem que acertar", diz o ditado popular e a minha amiga acertou.
Da decisão que tomou naquele dia, a sua vida tem visto desabrochar muitas flores e delas estão a amadurecer dois frutos que alimentam a sua alma e lhe adoçam a boca todos os dias.
Acertou também na profissão que escolheu e em que se realiza. Já lá vai o tempo em que as mulheres se realizavam apenas como esposas e mães...
Tenho muitas saudades da nossa cumplicidade.
Mas estou feliz por sabê-la bem.
Que os nossos caminhos se cruzem em breve é o meu desejo maior. E como estou habituada a lutar pelo que quero, vou estudar o mapa das nossas rotas, para desviar no primeiro atalho e ir ao seu encontro.

25/06/2008

Ginjas

Desapareceram as ginjas.
Eram consideradas uma fruta menor, somenos, fruta que não merecia o trabalho da apanha.
Mas o paladar dos ricos, habituados a provar tantas variedades de coisas boas, começou a reparar nelas.
A ginjinha que se bebia na taberna, como substituto dos licores com nomes esquisitos, começou a dar nas vistas.
E nos restaurantes lá da capital, começaram a achar graça ao doce de ginja para contrastar com outros sabores menos agrestes, menos selvagens.
Começaram a perguntar pelas irmãs pobres das cerejas, nas praças e nos mercados.
E foi assim... Hoje são mais procuradas, mais encomendadas e muuuito mais bem pagas.
Na Serra da Gardunha plantam-se ginjeiras à pressa. Adubam-se, protegem-se e colocam-se nelas as esperanças de uma existência menos dura, de invernos menos frios de lenha na lareira e de carne na salgadeira.

Cerejas

Cerejas, cerejas, cerejas.
São os tempos de alegria nas encostas da Serra da Gardunha.
A Primavera trouxera a floração que mais parecia ter coberto a Serra de neve.
Com os dias mais quentinhos, a flor da cerejeira deixou as ramadas e atapetou o chão, como se fosse o véu da noiva deixado para trás na vinda da Igreja.
Os vários tons de verdes foram aparecendo com a folhagem, que trouxe de novo a vida à Gardunha.
À saída de Castelo Branco e à medida que se aproxima Alpedrinha, cada encosta, cada vale, cada cume sorri com o rejuvenescimento que a folhagem das cerejeiras consegue fazer à Natureza em cada Primavera.
Agora é a festa!
As cerejeiras vergam as pernadas carregadas com as cerejas que amadurecem e brilham, no seu colorido berrante, ao sol.
É tempo de risos, de fartura, de alegria, de doce sumarento na boca.
É tempo de renovar esperanças daqueles que tratam a terra e tão pouco recebem pelos produtos maravilhosos que conseguem gerar nela, trabalhando dias que começam nas madrugadas e avançam pelas noites.
As cerejas são o sangue da Gardunha, sangue doce, sangue vivo, mas sangue fugaz.
Com o começo do Verão elas partem para as Lisboas, para os Algarves e é tempo da Gardunha se preocupar com os incêndios, que vão encher as encostas de chamas laranja e névoas de cinza.

08/06/2008

Já a formiga...

A Mimila tentava dar de comer à criança de quem se ocupava, a minha mãe, de 3 ou 4 anos nessa altura.
Convencia-a de como era bom, de que já não estava quente, que era só mais uma colherzinha para engordar o dedo mindinho do pé, onde ainda não tinha chegado alimento... mas a criança não cedia.
Por fim a Mimila, lembrou-se de fazer uma negociação.
- Vá lá, Celestinha, se comer tudo vai com a Mimila ao mês de Maria.
Ao que ela respondeu: - Ao mês de Maía, não... ao chiema.