25/12/2009

Sem Natal

O Natal é a mais violenta festa da Paz!
É triste para quem está só, para quem está doente, para quem cumpre pena numa prisão.
É dor para quem nada recebe dos outros e para quem não tem nada para oferecer ou ninguém a quem o fazer.
É saudade para quem está longe dos familiares ou para quem os perdeu.
É sofrimento para os que procuram emprego, para os que o perderam.
Para os que não têm casa.
Para todos os que não têm esperança.
É a Quadra de quem tem dinheiro, família, casa, emprego, saúde e alegria.
É a festa de quem é feliz.
Para muita, muita gente, o Natal é um período que desejam passar a correr, esquecer, não viver.

17/12/2009

Estrelas no céu escuro.

Uma família amiga dos meus pais viu a sua casa arder e desaparecer no incêndio, todo o seu recheio.
Tal como nós, era um casal com 3 filhos, 2 rapazes e uma rapariga.
Foram viver para nossa casa, enquanto resolveram o problema.
Eu passava o tempo com o filho mais novo, talvez porque a filha era a mais velha dos irmãos e muito senhoril para o meu feitio.
Todos os dias, à noite, depois do jantar, nos sentávamos na janela da sala e olhávamos o céu e as estrelas.
Fazíamos cálculos da distância a que estariam, do seu tamanho, dos estragos que fariam na nossa casa, se caíssem, da proximidade umas das outras, dos seus nomes, de onde teriam vindo, se morreriam, etc.
Nunca tivemos quem nos ensinasse alguma coisa sobre elas, talvez porque éramos apenas crianças, sentadas na janela, a cogitar sobre a imensidão do Universo. Também não tinhamos livros ou internet. Apenas a nossa intuição e sensibilidade nos prendiam a abservar aquele céu profundo com mil pontos brilhantes, que nos atraía e intrigava.
Um dia, a casa do Jorge ficou pronta e ele mudou-se com a sua família.
Eu voltei à janela, onde me sentei como me sentava, espreitei pela grade que fazia varandim, como espreitava, mas nessa noite não se viam as estrelas.
Esperei e olhei atentamente. Pareciam véus negros que se arrastavam frente a uma Lua que se escondia e aparecia como se brincasse comigo.
Convenci-me que as estrelas se tinham mudado com o meu companheiro de serão e achei injusto.
Desisti cedo demais. Se tivesse insistido, tinha visto que a Natureza também tem os seus momentos de tristeza, momentos em que prescinde do seu brilho para ficar aninhada, incógnita, numa noite de nuvens.

Sonhar

Nunca sonhei viver numa cidade grande, mas desejei viver numa rua no centro, sair para tomar um café ou ir ver as montras, sem ter de ir de carro.
Nunca sonhei fazer grandes viagens, conhecer mundos distantes, praias paradisíacas com palmeiras à beira da água de cristal e copos com bebidas coloridas e adornos tropicais, desertos a perder de vista com camelos dolentes, monumentos com história na História do Mundo, mas desejei poder falar com as pessoas que habitam as aldeias, conhecer os seus costumes, provar as suas ementas, meter-me na sua pele, para depois escrever sobre elas.
Nunca sonhei com vestidos caros, com restaurantes sofisticados, com uma companhia masculina de arrasar, mas desejei passear à beira mar de mãos dadas com alguém que sentisse o mesmo que eu, que gostasse das mesmas coisas, que me inspirasse e para quem eu fosse inspiração.
Continuo a desejar visitar Paris, pelo seu romantismo, a Grécia pela sua história e Itália pela sua língua (que parvoíce, dirão).
Sonho com o livro para o qual escolha a capa...
Os meus sonhos continuam por realizar, enquanto a minha vida se esgota em obrigações e hesitações.
Talvez os meus sonhos sejam ousados para as minhas capacidades.
Continuam apenas a ser sonhos.

16/12/2009

Está a nevar!

Está a nevar nas terras altas da Beira.
Aqui está frio, chove e adivinha-se a neve lá longe, na Serra da Estrela.
Aquele frio, a que eu estava habituada na minha adolescência, agora sabe-me bem, talvez pela saudade que tenho da minha juventude e da minha terra.
O casaco comprido, as luvas, o cachecol, eram peças de vestuário obrigatórias para se sair à rua.
Em casa, a braseira era um elemento indispensável. A mesa redonda, com cobertura de fazenda de lã, escondia a braseira eléctrica que aconchegava a família à chegada da rua.
As crianças faziam os trabalhos à volta da mesa.
As refeições eram tomadas ali também.
As camisolas interiores, as malhas de pura lã, o cachecol de angorá, ajudavam ao passieo na rua, sem o desconforto do frio que chegava aos ossos.
Na quinta, gelava a água no tanque e brilhavam os pingentes de gelo nos braços das árvores sem folhas.
Todas as manhãs, a caminho das aulas, viamos os campos brancos de geada e as fogueiras que os agricultores faziam, para ir aquecendo os dedos, que gelavam ao apanhar a azeitona das oliveiras perfiladas.
O pior era a escola... não havia aquecimento, nem que o pátio estivesse coberto de neve.
Não havia casacões de plumas, nem kispos impermeáveis.
Mesmo assim, estudava-se e vencia-se sem que alguém desse por isso.