07/11/2009

Spicegirls de antigamente!

Volto a viajar para o país das minhas recordações tão distantes e tão acarinhadas pelas saudades.
Quando frequentava o Colégio, nos primeiros anos do liceu, tinha "o meu grupo", como todas as miúdas da época.
Trocávamos os nossos segredos mais íntimos, os sonhos, os medos, as alegrias e os desgostos religiosamente. Sabíamos tudo umas das outras.
Tínhamos os mesmos gostos, vestíamos da mesma maneira, usávamos o mesmo penteado, coleccionávamos as fotos dos mesmos artistas.
Nesse ano, estava no top a música dos Rolling Stones, que nós ouvíamos vezes sem conta e sabíamos de cor e salteado.
Sem tocarmos qualquer instrumento, nem sabermos cantar nada de especial, lembrámo-nos de fazer um grupo rock como o dos nossos ídolos.
Éramos meia dúzia de miúdas duma pequena cidade do interior, onde só uma ou outra mais felizarda tinha gira-discos e uns quantos singles, que recebia no dia do aniversário, mas todas com sonhos do tamanho da Serra da Estrela, nossa vizinha.
Juntávamo-nos para ensaiar. A fama era de estudar, mas...
A Lindinha, uma das minhas amigas, vivia no 1º andar do edifício onde os pais trabalhavam - os Correios. Era ali que nos juntávamos a maioria das vezes, por ser perto do Colégio e porque os pais dela nunca estavam em casa.
Então esfalfávamo-nos a cantar o "Satisfation". Ensaiávamos para termos a nossa banda, sentadas na cama da Lindinha, sem sabermos uma nota de música.
A mãe dela, volta e meia deixava o serviço e vinha mandar-nos calar, nervosa e contrariada com o que lhe calhava na rifa!Um dia lembrámo-nos de escrever a alguém importante para nos financiar os instrumentos (3 violas e uma bateria, como era habitual) e finalmente podermos apresentar ao público o nosso talento.
E já que era para ser a alguém importante, de quem nos fomos lembrar? Nada mais, nada menos do que do 1º ministro de Portugal, o Sr Presidente do Conselho de Ministros, o Sr. Professor António de Oliveira Salazar. Nessa altura ele ainda não tinha caído da cadeira e nós eramos novas demais para sabermos da sua importância. Era o presidente e como tal o mais indicado para nos mandar uns trocos para fundarmos o nosso grupo musical...
Que grande desilusão, quando recebemos a resposta do gabinete do Presidente do Conselho de Ministros, informando-nos que não havia verba para aqule fim!
Não havia verba... ora sim, não queriam dar-nos uma ajuda para mostrarmos o nosso grande talento, era o que era.
Quem ficou mais aliviada foi a mãe da Lindinha, que até estranhou o silêncio e se perguntou da razão de andarmos tão cabisbaixas!
Ainda hoje me rio com estas recordações.