23/01/2008

Em frente de casa, no dia de festa.

No dia do meu aniversário, com a minha mãe, os meus irmãos, as minhas primas e as minhas melhores amigas.
A rua em que viviamos, ao lado do campo onde foi rasgada a avenida, é uma das principais ruas do Fundão.
Naquele campo, todos se juntavam ali nas 2ªs feiras, para fazer o mercado.
Agora não há ali oliveiras, nem pedras amontoadas que sirvam de cenário às fotos nos dias de aniversário... apenas prédios e carros.
O tempo passou depressa!
Eu sou a 1ª da direita e lembro-me que a minha boneca, que a Ana Maria segura, era a estrela de todos as minhas festas. Atrás de mim está o meu irmão Manel, um tanto escondido pelo laço da Luísa. O Tonô está ao colo da minha mãe.
(Todos juntinhos, ao meio, as mais pequenas com direito a uma pequena nesga deixada pela boneca e o fotógrafo, bem afastado para não perder nada do "maravilhoso" cenário!)
E lá tiraram a foto da ordem, para mais tarde recordar.

21/01/2008

As minhas decisões

A minha tia Fernanda, morava no Largo da Igreja e nós viviamos logo ao lado, no Largo José Barata.
Era realmente muito perto e para ir a casa dela, podia ir sempre pelo passeio, só precisando de atravessar uma rua muito estreita e sem movimento.
Todas as 3ªs feiras ia trabalhar a nossa casa uma costureira e eu ficava por ali a brincar de olhos nas voltas que os panos levavam nas mãos da senhora, enquanto os ia transformando em blusas e calções.
Naquele dia, a minha mãe mandou-me levar um recado à tia Fernanda. Eu ia toda contente porque adorava a minha tia e porque gostava de ir à rua, como todas as crianças.
Mas não resisti à tentação e apesar de ser Verão, vesti um casaco comprido que a costureira me fazia e deixara nas costas da cadeira, ainda alinhavado e sem mangas.
Apareci na porta da tia Fernanda com o casaco azul escuro de Inverno, cheio de alinhavos brancos e com os alfinetes a segurar os bolsos e metade da gola.
Mas ia vaidosa e muito feliz no meu casaco novo!

Se viessem e me dessem a escolher...

Quando era miúda tinha uma o hábito de parar em frente das montras e enquanto olhava ia pensando:-Se agora viesse alguém e me dissesse que me dava uma coisa que eu quisesse, o que é que eu escolhia?
Teria começado pelos brinquedos, penso eu. Mas não me lembro de haver uma loja de brinquedos no Fundão.
Não havia grandes superfícies de brinquedos, supermercados ou centros comerciais. Geralmente os brinquedos que tínhamos, eu e os meus irmãos, era o meu pai que nos trazia de Lisboa, de Coimbra ou até de Espanha, onde ia comprar os pneus para os carros.
Havia a papelaria do Zé Henriques que vendia livros de histórias, puzles e alguns brinquedos.
Já então a montra da papelaria tinha montes de coisas que me chamavam a atenção. Ficava a ver os estojos para os lápis, as borrachas, as canetas, os aparos, os livros com capas coloridas e pensava no que escolheria se chegasse ali alguém e me desse uma, só uma, daquelas coisas. O interessante do jogo era ser uma apenas. Tinha de ir excluindo uma a uma até ficar com a que preferia. Demorava muito tempo e enquanto escolhia, falava sozinha. Excluía pela cor, pela forma, pelo tamanho, pela utilidade...
Gostava de antiguidades e passava em frente da loja do Forte para ver os santos, as bacias, os jarros, os ícones, as jarrinhas com desenhos coloridos, as caixinhas de música com bailarinas e os candeeiros de corta luz aos folhinhos. Tentava escolher entre o jogo de xadrez em pedra ou as caixinhas de cristal com damas antigas desenhadas na tampa, os pequenos elefantes de marfim, as tartarugas de cobre ou as molduras de estanho com raminhos de flores a um dos cantos.
Mais tarde comecei a demorar-me nas montras das ourivesarias.
Adorava jóias. O formato, as cores e o brilho fascinavam-me.
Ficava frente ao Riscado a escolher o anel com um nó, a pulseira de malha batida com um fecho trabalhado e uma pedra azul no centro, o fio com várias voltas cheio de pedras coloridas... sei lá. Todas me agradavam, por uma ou por outra razão e eu sonhava que uma delas me seria oferecida sem mais nem menos, por artes mágicas.
Era a minha mania, a maneira de eu sonhar, por momentos, ter as coisas bonitas que não podia comprar.
Ainda hoje eu paro e fico imenso tempo a escolher, mas o meu pensamento apenas mudou um pouco quando substituo "se viesse alguem e me dissesse para escolher" por "se me saísse a sorte grande", porque aprendi que só tenho aquilo que consigo pagar.
Continuo a gostar de antiguidades, de jóias e de livros (esses são os que mais vezes me vencem e eu levo comigo depois da habitual exclusão, quase sempre sugerida pelo preço!).
Esta semana há jackpot no Euromilhões e quero jogar. Se me sair vou comprar... uma loja para o meu filho montar a sua livraria e espaço net, uma casa para a minha filha e para mim... bem... para mim...

05/01/2008

Friiio...

Estou no Fundão mais uma vez e hoje está muito friiiiio!
O dia amanheceu com dificuldade, porque está um nevoeiro cerrado.
A casa está aquecida e até costumo ter calor, pelo que logo pela manhã, abro as janelas e deixo o ar fresco entrar na casa onde a doença da minha mãe me deixa deprimida. Mas hoje o ar está gelado e tive de voltar a fechar tudo.
Olho pela janela, sem vontade de me aventurar a ir tomar um café.
Não se vê viva alma na rua e uma ou outra pessoa que passa, vai encolhida, com o nariz vermelho, os cabelos arrepiados e as mãos escondidas no fundo dos bolsos.
Nas notícias dizem que em Espanha não se pode circular por causa da neve e na Roménia, a terra do meu amigo Marcel, o termómetro atinge os 24 graus negativos.
As grandes tílias da avenida finalmente estão a deixar cair as folhas, pois com os dias de sol e temperatura amena, as pobres andavam confusas... não sabiam se era Primavera, se Outono!
Este nevoeiro é sinal de que na Serra da Estrela está a vestir o seu vestido de noiva e aparecerá, logo que a cortina de nuvens se afaste e surjam raios de sol descorados e tímidos, com o seu tradicional manto branco bordado de cristais e olhar de soberana sobre toda a Cova da Beira, que sempre se curva à sua beleza e majestade.

01/01/2008

Trastes para a rua.

Vivi já noites de passagem de ano de todas as maneiras e feitios... infelizmente, pois é sinal que já festejei mais do que tenho para festejar.
Lembro-me de um ano na Idanha-a-Nova, na casa da Tia Fernanda, quando ainda era pequena.
Fui lá passar as férias do Natal e à meia noite a minha tia cumpriu com a tradição daquela terra arraiana, ou seja, deitar pela janela fora todos os objectos usados que não gostasse.
Procurámos tachos amolgados, pratos com pequenas falhas, canecas, frigideiras, tudo o que por ali andasse já pouco apresentável.
Carregámos montes de tralha para perto das janelas do último andar da casa e esperámos com impaciência pelas 12 badaladas.
O frenesim dos meus primos espantava-me, pois eu pensava que iriamos atirar aquelas coisas todas pela janela, que desapareceriam no escuro da noite e pronto, estaria cumprido o ritual.
A minha tia vivia no centro da Idanha, onde as casas são antigas, a iluminação fraca e o movimento nas ruelas praticamente nulo.
Na noite de passagem de ano, com frio, tudo estava silencioso e escuro, nada de emocionante se antevendo.
Quando começaram a soar as badaladas da meia noite, ouviu-se uma gritaria ensurdecedora vinda de todas as janelas, seguida de bater de latas e tachos, de atirar coisas que se partiam no chão com estrondo e embatiam nas paredes de pedra como bombas, sucedendo sempre a um ruído grande, outro ainda maior.
Mas era uma gritaria alegre, entusiasmada, contagiante, que me fazia rir e saltar de emoção, uma barulheira infernal que durou enquanto duraram os tarecos que viram o seu fim nas ruas e quintais da Idanha.
Por fim, a pouco e pouco a noite voltou a ficar quieta e silenciosa como antes .
Atiraram-se fora os trastes velhos e pouco decorativos, para começar o ano com a casa e a alma mais livres para as coisas novas.