17/12/2009

Estrelas no céu escuro.

Uma família amiga dos meus pais viu a sua casa arder e desaparecer no incêndio, todo o seu recheio.
Tal como nós, era um casal com 3 filhos, 2 rapazes e uma rapariga.
Foram viver para nossa casa, enquanto resolveram o problema.
Eu passava o tempo com o filho mais novo, talvez porque a filha era a mais velha dos irmãos e muito senhoril para o meu feitio.
Todos os dias, à noite, depois do jantar, nos sentávamos na janela da sala e olhávamos o céu e as estrelas.
Fazíamos cálculos da distância a que estariam, do seu tamanho, dos estragos que fariam na nossa casa, se caíssem, da proximidade umas das outras, dos seus nomes, de onde teriam vindo, se morreriam, etc.
Nunca tivemos quem nos ensinasse alguma coisa sobre elas, talvez porque éramos apenas crianças, sentadas na janela, a cogitar sobre a imensidão do Universo. Também não tinhamos livros ou internet. Apenas a nossa intuição e sensibilidade nos prendiam a abservar aquele céu profundo com mil pontos brilhantes, que nos atraía e intrigava.
Um dia, a casa do Jorge ficou pronta e ele mudou-se com a sua família.
Eu voltei à janela, onde me sentei como me sentava, espreitei pela grade que fazia varandim, como espreitava, mas nessa noite não se viam as estrelas.
Esperei e olhei atentamente. Pareciam véus negros que se arrastavam frente a uma Lua que se escondia e aparecia como se brincasse comigo.
Convenci-me que as estrelas se tinham mudado com o meu companheiro de serão e achei injusto.
Desisti cedo demais. Se tivesse insistido, tinha visto que a Natureza também tem os seus momentos de tristeza, momentos em que prescinde do seu brilho para ficar aninhada, incógnita, numa noite de nuvens.

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