09/11/2007

29 numa cama

Na quinta, o meu pai tinha um trabalhador rural que o ajudava há muitos anos e era quem orientava os outros, na sua ausência.
Era natural de Valverde, a aldeia onde nasceu a minha avó, mãe da minha mãe.
Quando vinham novos trabalhadores ou visitas à quinta, ele brincava dizendo que na sua casa dormiam 29 na mesma cama. As pessoas olhavam-no com surpresa, sabiam que era brincadeira, mas tentavam descobrir o que ele queria dizer.
Nunca sorria e continuava a afirmar que era verdade o que dizia. Na sua casa dormiam 29 na mesma cama.
Quando as pessoas mostravam vontade de saber como é que aquilo era possível, ele explicava:
- Eu sou Catorze, o meu filho também é Catorze... já somos 28, mais a minha mulher, somos 29.
Era um homem à moda antiga, como dizem lá no campo. Não é que já não haja homens honestos, humildes e fiéis àqueles para quem trabalham, mas havia uma ligação afectiva tão forte, que os interesses fundiam-se, parecendo que o principal interessado que a vinha produzisse ou o pomar florescesse era também o encarregado e não só o patrão.
Era habitual, para mim, ver o meu pai conversar com o Sr Catorze, analisando as decisões a tomar, numa harmonia e cumplicidade que transpirava não só respeito mútuo, mas também amizade.
Sinto imensa vontade de procurar em Valverde por esta e outras famílias que povoaram os dias da minha infância e deixaram marcas de sentimentos fortes e únicos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ola Boa tarde.Ler o seu blog delicia-me porque tambem sou do fundão que adoro e do qual tenho saudades do meu "velho Fundão" hoje tão modificado e fui criada em Valverde e conheço esse senhor 14 ou talvez os filhos e netos. Gostaria muito de entrar em contacto com a senhora que fala desta gente humilde e boa como era a minha avó que decerto conhecia.Adorava que me contactasse temos em comum a nossa linda terra.Um abraço por me reportar aos momentos da minha infância.