14/07/2007

Manelito

Brincar na rua era possível. E esta era uma das principais ruas do Fundão, junto dos campos onde foi traçada a avenida. Ao fundo está a Auto-Transportes. Parece que foi há muito tempo, no entanto os carros e os prédios é que se multiplicaram depressa demais.
O carrinho de pedais já fora substituído e eu olhava a bicicleta com olhos maravilhados.
Era o meu irmão mais velho, o meu herói. Era sempre ele que tinha aquelas coisas fantásticas. (Além disso, não lhe atavam borboletas no alto da cabeça.)
Ele é que não gostava muito da proximidade da "miúda" e todas as formas eram boas para me mandar para casa. Muitas vezes a choramingar, pois tinha a mão lampeira.
Eu usufruía das "máquinas", quando ele se fartava, quando ganhava outras mais modernas. Por ser rapariga, davam-me tachinhos e roupinhas para as bonecas...
Era apaixonado por carros. Um dia deram-lhe um cavalo de balanço. Arrancou-lhe o rabo de sisal e encheu-o de água, dizendo que estava a meter-lhe gasolina. Era de papelão moldado, abriu-se logo em dois...
O meu pai foi viajar e trouxe-lhe um carro em miniatura, de metal pintado.
Quando pensaram que estava entretido com o carrinho novo, foram dar com ele a martelar o carro e a gritar:"Não sou capaz de estragar esta porcaria!". Estava habituado a ver o que tinham dentro, a tirar-lhes as rodas, enfim... a ver bem como eram.
Cedo aprendeu a conduzir carros a sério e a conhecer tudo sobre eles. Eu acabei por me refugiar nos livros que alimentavam a minha imaginação e me faziam companhia, sentindo saudades das personagens das histórias, quando estas chegavam ao fim. O Tonô, que chegaria à família por último, tinha a sua preferência na música.
Todos continuamos com os mesmos hábitos...

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