21/07/2007

20 de Julho

Uma pequena homenagem ao meu pai, no dia do seu aniversário.
Aqui, na quinta que tanto adorava, com o Zé, a quem considerava como um filho, um irmão e um amigo.
A terra abençoada e generosa, o ar puro e a satisfação de uma vida cheia.
Levantava-se às 6 da manhã, todos os dias e até à meia-noite, nunca mais parava.
Os trabalhadores do campo chegavam às 8 horas e depois de dar as ordens, tomava então o pequeno almoço.
Costela do porco (nome dado ao entrecosto) frita com ovo estrelado, pataniscas de bacalhau, peixe em molho de escabeche, eram os pratos que preferia para acompanhar com uma caneca de café.
Era bem disposto por natureza.
Contava anedotas como ninguém. Mesmo a mais sensaborona, contada por ele, passava a ter graça. Acrescentava-lhe sempre uns pontinhos que faziam a diferença. Se a anedota não tivesse graça, as suas gargalhadas, no final, faziam rir as pedras.
Mas era muito distraído, muito esquecido.
Um dia, deu boleia a um amigo que precisava de ir a Lisboa. A pobre criatura esperou na hora e no sítio que tinham combinado para o regresso, mas o meu pai não aparecia. Depois de muitas horas, desesperado, lembrou-se de telefonar para o Fundão, donde o meu pai o atendeu...
Era procurado constantemente por quem precisava de um favor e a todos dizia que sim. As freiras duma Instituição que recolhia meninas sem família, pediram-lhe se lá mandava a camioneta, para fazerem a mudança para o hospital, onde ficariam instaladas até fazerem as obras no edifício. Claro que concordou... só se esqueceu que tinha de ir a Coimbra!
As freiras e as suas meninas trouxeram para a porta mobílias, roupas, tarecos e ficaram à espera. Ao almoço comeram pão, sentadas nos caixotes, ao lado do fogão. Telefonaram mil vezes na esperança de terem alguma novidade. Ao jantar já não tinham pão, nem força para voltar para trás, nem camioneta para fazer a mudança!
Às 10 horas da noite, o meu pai chegou de Coimbra, cansadíssimo. Quando lhe contámos dos telefonemas das religiosas, comeu a correr e foi ele mesmo fazer a mudança, trabalho que os empregados não tinham feito, dizendo que o meu pai não tinha deixado ordens para isso.
Dizia que não ia ao cinema porque não estava para pagar para dormir mal... Então levava a minha mãe à entrada e enquanto ela via o filme, ele trabalhava no escritório ou dava aulas. Já se imagina o que aconteceu... Acabado o trabalho, foi para casa. Vestiu o pijama a pensar que a minha mãe estava na cama e só então viu que ela não estava... que se esquecera dela.
Encontrou-a a meio do caminho, acompanhada por um casal amigo, furiosa por ter esperado uma boa hora.
As nossas lembranças estão tão vivas como no primeiro dia. Que saudades!
Feliz aniversário, pai!

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