18/05/2008

Lembrar...

A Mimila contava-me muitas histórias e duma forma, que só ela sabia.
Não há dia nenhum em que não pense nela, por causa de um lugar, de um objecto, de uma pessoa ou das suas histórias, que me repetia vezes sem conta e eu não me cansava de ouvir, pois traziam sempre qualquer pormenor novo.
Além disso, ela própria se achava graça. "Fazia a festa e deitava os foguetes", como costumava dizer enquanto ria com gosto.
Contava que a filha, a Teresa, tinha muita imaginação e de vez em quando lá se "saía com uma".
Um dia chegou a casa muito eufórica e disse: "Minha mãe, vi um avião no céu a voar muito baixinho. Quando eu andava, ele andava. Quando eu parava, ele parava."
A Mimila admoestou-a: "Isso pode lá ser, sua maluca. Onde é que já se viu uma coisa dessas? Ai, ai. Não se dizem mentiras."
A Teresa ficou ofendida e empenhou-se em que a mãe acreditasse, pelo que voltou a afirmar com convicção: "É verdade, minha mãe, eu andava e o avião andava, eu parava e o avião parava. E voava tão perto, tão perto, que eu até consegui ver o cãozinho."
Parou de bordar, olhou admirada para a filha e só conseguiu perguntar: "O cãozinho!!! Qual cãozinho?"
A Teresa, com os olhos postos na mãe e a pensar que já estava quase ganha aquela batalha, respondeu muito alvoroçada: - O piloto, minha mãe. Até vi o piloto.
A Mimila riu e compreendeu que a filha não mentia... imaginava, associando ideias.
(Piloto, Bobi e Lassie eram os nomes mais frequentemente dados aos cães, naquela altura. Agora colocam nomes de pessoas aos cães e já me tenho confundido, quando ouço falar do Adolfo ou do Sebastião!)
Recordo como achava lindo a Teresa chamar "minha mãe" ou a Mimila falar do marido dizendo "o meu homem". Penso que ainda se fala assim no Fundão, pelo menos nas pessoas que não passam férias no Brasil ou em Cuba.
Quando alguém dizia "o meu marido", havia logo quem brincasse... "o meu marido, foi ao mar e ficou encolhido!"
E eu ainda gosto de ouvir dizer "o meu homem".
(Esta foto mostra o que eu via da varanda da sua casa, varanda onde passámos muito tempo juntas. O marido era o proprietário de um dos táxis que se vêm frente ao edifício. No r/c funcionava a praça e no 1º andar, o casino.
O jardim com o pelourinho, era o palco de todas as nossas brincadeiras.
Lembrar, sabe bem.

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