08/04/2008

O n.º 10

Nós morávamos no Largo José Barata, nº10, agora de novo com o seu nome primeiro - Largo da Praça Velha. Era uma casa grande, com r/c, 1º e 2º andar, que dava para duas ruas.
Muito da minha infância ficou entre as pedras que tiraram daquela casa, para construir uma outra, descaracterizada, pensada apenas para exposição de móveis.
Quando entrei na escola, já lá vivíamos. Todas as divisões me lembram histórias engraçadas.
Tinha janelas altas, com uma pequena grade de ferro trabalhado a 1/4 da altura e duas portadas.
A porta dava acesso a uma escada que levava ao 1º andar. Ao cimo da escada, o corredor com portas de um lado e doutro.
Mais à frente estava a escada para o 1º andar e outro corredor mais pequeno para a sala de jantar, a cozinha e a marquise a toda a largura da casa.
A marquise dava ainda para uma varanda e para o quintal. Era ali que nós gostávamos de brincar e era nesse quintal que habitualmente nos tiravam as fotografias a franzir os olhos com o Sol.
Na Primavera, os beirais do telhado enchiam-se de ninhos de andorinhas e em cada entardecer os fios da electricidade serviam de baloiço às tão graciosas aves.
Nos domingos ia à Missa com a minha mãe e no regresso tinha de vestir o bibe para não sujar a roupa de ver a Deus. Tinha vários bibes, mas todos do mesmo género, com folhos nas alsas, nos bolsos e a rematar a saia, com histórias bordadas a linhas coloridas. Recordo a da Carochinha, que encontrou um tostão quando varria a casa e foi para a janela procurar com quem casar.
"- Quem quer casar com a Carochinha que é linda e engraçadinha e tem um tostão na caixinha?"
Então, sentava-me no peitoril da janela, donde atirava algodão em farrapinhos, que as andorinhas apanhavam em voo rápido.
Era uma casa especial. Apesar de já não estar lá, continua a povoar as lembranças da minha infância.

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