12/04/2008

Conchas de prata e laços

Perto da nossa casa, em frente do Café Aliança, havia uma ourivesaria propriedade do Sr Saraiva, mais conhecido por Saraivinha, por não ter mais de 1,40 m de altura.
Era casado com uma senhora igualmente pequenina, ou até um pouco mais baixa que ele.
Lembro-me de os ver na rua, de braço dado, dando passinhos pequeninos que me faziam lembrar as gueixas que vira no cinema.
Parece que não gostava que o tratassem por Saraivinha, mas as pessoas já o tratavam assim há tanto tempo, que até eram capazes de jurar que o seu nome era aquele.
Um dia eu precisei de uns elásticos para um trabalho da escola e a minha mãe disse-me que fosse pedir ao Saraivinha, pois para aquele trabalho ficavam bem os elásticos que ele usava para fechar as caixinhas do ouro. Mas a minha mãe recomendou-me logo que o tratasse por Sr. Saraiva.
Eram 7 ou 8 passos até lá e mesmo assim repeti o nome várias vezes para não me esquecer.
Na loja havia uma senhora a comprar qualquer coisa para oferecer não sei a quem.
Enquanto esperava, reparei nas coisas tão bonitas que ele tinha na vitrine, à altura dos meus olhos. Havia uma concha em prata e ao lado uma pombinha com pérolas nas asas. Atrás, uma coroa de folhinhas com pérolas também. Um laço com duas pontas, tinha ao meio uma pedra azul, cor do céu, que eu achei ser a mais bonita de todas.
De repente, ouvi uma voz a chamar-me e fiquei atrapalhada. Tinha-me distraído e esquecido completamente do que me trouxera ali.
"-Sr. Saraivinha, vinha pedir se me podia dar 2 elásticos para fazer um trabalho da escola, por favor."
Com ar de enfado, abriu uma gaveta, tirou dois elásticos e deu-mos.
Agradeci e saí a correr envergonhada, por me ter atrapalhado e dito o nome que ele detestava.
Quando olhei para os elásticos, fiquei surpreendida por serem tão pequeninos. Mal estiquei o primeiro, saltou-me das mãos e desapareceu.
No Fundão, um dia houve um jogo de futebol de solteiros contra casados, contaram-me.
Os guarda redes da equipa dos casados era o Saraivinha e da equipa dos solteiros, era o meu avô Leal, que media 2,02m de altura.
Mas... os homens não se medem aos palmos! Não me contaram foi se houve golos...

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