09/08/2007

A infância

O Pedro diz-me para não ser preguiçosa...
Ele tem razão, não tenho tido vontade de escrever.
Veio a minha mãe passar o mês de Agosto a minha casa e sempre que me vê em frente do computador, chama-me para dizer qualquer coisa. Fala-me de pessoas do Fundão, que eu não conheço, ou se conheci, já não tenho qualquer ideia de quem sejam. Como mostro gostar de saber essas novidades, tenta contar mais. Sempre que recomeço a escrever, volta a querer a minha atenção. Preferi fechar o computador e evitar ficar impaciente com as interrupções.
Para o meu sobrinho Pedro, "moço bonito", (como diria Jorge Amado em "Gabriela"), faço hoje serão e lembro a sua infância na quinta.
Na foto, o Frederico e o Pedro.
O Frederico, o meu filho, com o equipamento do Belenenses, o nº 1 nas costas a seu pedido, que adorava e vestia todos os dias. O Pedro, de pés no chão, mesmo contra a vontade da avó (por causa do perigo de se cortar num vidro ou espetar um prego) a piscar os olhos, para manter a tradição. O cachorro Serra da Estrela, com pouco mais de um mês de idade, arreado de tantas festas.
A quinta era o paraíso para todos nós.
Os cães, as galinhas, os coelhos e os gatos. A água, a terra, as pedras, as árvores e o céu.
O espaço... a liberdade.
Já tinha sido para mim e para os meus irmãos. Era para os meus filhos e para os meus sobrinhos da mesma forma.
No ribeiro ao fundo da latada, fazíamos regatas com cascas de nozes e pedacinhos de cana.
A nogueira e a nespereira, no meio do jardim, eram os nossos castelos e os monte da areia que sobrara de uma obra, tomava um sem fim de formas, que alimentava a nossa imaginação.
Os arbustos que a minha mãe mandava podar com feitios elaborados, eram os esconderijos para os cowboys, que se alvejavam de surpresa com pistolas de pau.
Agora, tudo se repetia.
Tomavam banho no tanque da roupa, com água saída da nascente, gelada e transparente.
Faziam bigodes com as talhadas de melancia, que tingia as roupas e deixava as mãos meladas do açúcar.
Para o Frederico, qualquer pauzinho servia de pistola e os tiros, sons que fazia com a boca, chegavam a fazê-lo babar-se com tantos que disparava seguidos.
Os cães, tão respeitados por quem se aproximava da quinta, eram uns "borrancanas" nas suas mãos. Podiam fazer-lhes tudo, que eles não se afastavam, nem se rebelavam.
O Verão era uma aventura cheia de sol, ar puro e coisas boas.
Hoje, já homens, em vez de jogos e correrias, os meus Romeus fazem juras de amor, embora de forma mais descontraída, mas igualmente apaixonada, às suas Julietas de cabelos de oiro e olhos cor do céu. Adivinha-se uma nova geração...

2 comentários:

Eduarda Henriques disse...

Feliz Pedro por mais este "rebuçado" da Tia Mimi?
Eu, confesso, que já começava a desanimar. Acho que a tia, sem se dar conta, arranjou uma série de admiradores das suas páginas.
Eu, pessoalmente, venho cá quase todos os dias a ver o que ela tem para nos contar.
m.e.

Pedro Salvado disse...

É verdade. Este blog começa a ter um pequeno grupo de fãs, no qual obviamente me enquadro.
Quanto a este rebuçado...tirou-me as palavras da boca. Ainda hoje quando passeio pela quinta, transporto-me para a minha infancia feliz, para aqueles verões inesquecíveis com os primos de lisboa, com as gargalhadas do avô e com os cozinhados da avó...