13/08/2007

Ao banho!

O tanque da roupa era uma tentação!

Acabado de encher com água da nascente, era irresistível de tão transparente, mas... gelada.
Os "pirolitos" não continham cloro.
A barriga encolhia-se com o frio e os dedos ficavam encarquilhados e roxos.
Mas até isso fazia parte.
A brincadeira estava sempre por ali, à esperade ser parceira...
Mesmo assim os dois primos inseparáveis mergulhavam sob a vigilância "arrepiada" da Rita.
Desta vez não era o Pedro, mas a Bagui.

A respiração continha-se e os risos só se soltavam depois, quando recompostos do choque.
Nunca havia constipações.
Como o sol era quente, bastava subir as escadas a saltitar (por causa das areias mais grossas que se espetavam nos pés) e ao chegar à varanda, já se estava em forma outra vez.
Então vinha o lanche da avó... e o apetite também não faltava.
Quando alguns garotos de Lisboa nos davam rótulos porque éramos da "província", falávamos "achim" e não conhecíamos cinemas, transportes ou lugares como eles, dávamos-lhe razão e desejávamos ir para a cidade o mais depressa possível...
Que imagem tínhamos da vida das cidades!
Eu adorava ver Lisboa à noite, com toda a iluminação colorida dos cinemas e prédios de grandes empresas.
Parecia-me tudo muito alegre, as pessoas muito apressadas davam-me a ideia de ser todas felizes, os transportes cheios faziam-me acreditar que andavam todos a passear por gosto.
As lojas com fatiotas ousadas, os restaurantes cheios, as pastelarias com pessoas em pé, pareciam sempre numa festa.
Depressa pude ver a realidade.
A sonolência de quem viajava nos autocarros pouco tinha a ver com o cansaço dos fins de festa e os rostos dos mais apressados transmitia tanta impaciência, tanta raiva, que ao mínimo contratempo explodiam em impropérios e desespero.
A nossa infância vinha-me então à memória como um período maravilhoso, que nos dera uma estrutura tão forte, como as montanhas que observavam quietas o nosso crescimento.

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