01/05/2012

Abril em Portugal

E já se vai o Abril, para dar lugar ao Maio, que como tudo, começa no 1º.
Antes que termine o Abril, busco algumas lembranças da minha adolescência, já tão distante. Abril era cantado com uma música muito conhecida, com letra adaptada e intitulada “Avril au Portugal”. Eu não entendia porque é que o meu país tinha tido a honra de ser cantado com a língua de Paris. Realmente “Abril em Portugal “ soava mais simplório, mais provinciano. Em francês era mais giro. Comecei por pensar que era por tanta gente da nossa terra estar em Paris. (Assim como pensava que nos filmes de cowboys, quando diziam “mãos no ar”, era para darem um tiro em cada mão).
Mas pouco me demorava nesses pensamentos pois em Abril havia a feira e os divertimentos que vinham com ela. Depois começavam os dias bonitos e já podíamos passear com os rapazes avenida acima, ou estar na esplanada durante o tempo que o dono do café achasse que valia o consumo que tinhamos feito. Aí, nunca era muito tempo, pois quase todos tinhamos o dinheiro de bolso que daria para um café ou um bolo, apenas.
Só que de vez em quando era alertada por alguma conversa diferente, como “o Jornal do Fundão teve problemas com a pide”, “o Sr Armando Paulouro foi incomodado pela pide”, “cuidado com fulano que é informador da pide” e eu perguntava ao meu pai o que se passava.O meu pai não queria que nós falássemos disso e advertia-nos com ar grave. Vieram eleições e achei entusiasmante, mas as pessoas não acreditavam nelas e diziam “votar para quê? Eles não os deixam ganhar”. Então pensava que as eleições eram como uma luta de boxe com golpes baixos.
Mas as pessoas encontravam sempre forma de ter esperança e ficaram cheias dela quando Salazar caiu de maduro e deu lugar a uma maçã da mesma árvore. Tudo parecia mudar, mas eu começava a desconfiar que era mesmo só de nome, mudar de Salazar para Caetano, de pide para dgs, etc.Tive a certeza, quando o meu irmão Tonô, que estava na Faculdade de Direito em Lisboa e vivia comigo, chegou a casa cheio de hematomas provocados pela polícia de choque, que invadira a Faculdade e desancara a “estudantada revolucionária”.
Aconteceu Abril em 1974, e a 25 eu não sabia se era para continuar a ter medo, se era para festejar. Mas o 1º de Maio veio dar-me a resposta e aprendi com o passar do tempo, que era mesmo para festejar.
Este mês de Abril de 2012, o noticiário abriu com a comemoração do aniversário do ditador e cerca de dezena e meia de portugueses, junto à sua campa, tinham ar consternado. O meu encolher de ombros daria por encerrada a notícia, se não fosse a surpresa de ver quem discursava, baixar o papel onde lia o que lhe ia na alma e levantar o braço, em saudação fascista, com orgulho.
Foi como se me desse uma bofetada. Por segundos, voltei a ter medo.

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