21/01/2008

Se viessem e me dessem a escolher...

Quando era miúda tinha uma o hábito de parar em frente das montras e enquanto olhava ia pensando:-Se agora viesse alguém e me dissesse que me dava uma coisa que eu quisesse, o que é que eu escolhia?
Teria começado pelos brinquedos, penso eu. Mas não me lembro de haver uma loja de brinquedos no Fundão.
Não havia grandes superfícies de brinquedos, supermercados ou centros comerciais. Geralmente os brinquedos que tínhamos, eu e os meus irmãos, era o meu pai que nos trazia de Lisboa, de Coimbra ou até de Espanha, onde ia comprar os pneus para os carros.
Havia a papelaria do Zé Henriques que vendia livros de histórias, puzles e alguns brinquedos.
Já então a montra da papelaria tinha montes de coisas que me chamavam a atenção. Ficava a ver os estojos para os lápis, as borrachas, as canetas, os aparos, os livros com capas coloridas e pensava no que escolheria se chegasse ali alguém e me desse uma, só uma, daquelas coisas. O interessante do jogo era ser uma apenas. Tinha de ir excluindo uma a uma até ficar com a que preferia. Demorava muito tempo e enquanto escolhia, falava sozinha. Excluía pela cor, pela forma, pelo tamanho, pela utilidade...
Gostava de antiguidades e passava em frente da loja do Forte para ver os santos, as bacias, os jarros, os ícones, as jarrinhas com desenhos coloridos, as caixinhas de música com bailarinas e os candeeiros de corta luz aos folhinhos. Tentava escolher entre o jogo de xadrez em pedra ou as caixinhas de cristal com damas antigas desenhadas na tampa, os pequenos elefantes de marfim, as tartarugas de cobre ou as molduras de estanho com raminhos de flores a um dos cantos.
Mais tarde comecei a demorar-me nas montras das ourivesarias.
Adorava jóias. O formato, as cores e o brilho fascinavam-me.
Ficava frente ao Riscado a escolher o anel com um nó, a pulseira de malha batida com um fecho trabalhado e uma pedra azul no centro, o fio com várias voltas cheio de pedras coloridas... sei lá. Todas me agradavam, por uma ou por outra razão e eu sonhava que uma delas me seria oferecida sem mais nem menos, por artes mágicas.
Era a minha mania, a maneira de eu sonhar, por momentos, ter as coisas bonitas que não podia comprar.
Ainda hoje eu paro e fico imenso tempo a escolher, mas o meu pensamento apenas mudou um pouco quando substituo "se viesse alguem e me dissesse para escolher" por "se me saísse a sorte grande", porque aprendi que só tenho aquilo que consigo pagar.
Continuo a gostar de antiguidades, de jóias e de livros (esses são os que mais vezes me vencem e eu levo comigo depois da habitual exclusão, quase sempre sugerida pelo preço!).
Esta semana há jackpot no Euromilhões e quero jogar. Se me sair vou comprar... uma loja para o meu filho montar a sua livraria e espaço net, uma casa para a minha filha e para mim... bem... para mim...

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