28/12/2007

Quebrou-se o encanto

Seria desta idade, ou um pouco mais velha, quando ficou pronta a casa da quinta e fomos passar lá a noite de Natal. Tinha 10 anos feitos em Junho e frequentava o 1º ano do liceu.
Depois da Missa do Galo, já cansados de tanta excitação para fazer o presépio e moldar os bonecos da massa das filhós, bebíamos cacau quente e comíamos filhós, fatias douradas e outros doces tradicionais.
Antes de irmos dormir, deixávamos o sapato junto da lareira, para recebermos os presentes do Menino Jesus, que só veríamos pela manhã.
Nesse ano, a minha mãe mostrou-me o casaco de veludo cotelé, azul-escuro, que me iria colocar no sapatinho, convencida que eu já não acreditava na magia de um presente caído do céu.
Eu fiquei triste e desiludida.
Não tenho a certeza se acreditava mesmo que era o Menino que nos trazia os presentes, mas o desfazer definitivo daquele encantamento fazia-me sentir que o Natal nunca mais seria o mesmo.
Enquanto todos entravam na encenação da noite de Natal, era como se qualquer dúvida não tivesse razão de ser, como se se diluísse entre os odores da cozinha e as cores dos enfeites. A partir daquele momento, o sonho deixava de valer a pena. Levantara-se o véu e tudo era banal e conhecido, sem brilho e sem magia.
Ainda hoje só me entusiasma festejar o aniversário de Jesus de Nazaré, tal como o do meu filho Frederico, nascido poucos minutos depois da meia noite do dia 25 de Dezembro.
O saco vindo da modista, que a minha mãe abriu e donde tirou o casaco que eu esperava, trouxe também a sensação de que deixara de ser criança e entrava para o mundo dos mais velhos que não se mostrava nada sedutor.