09/12/2007

Casaquinho cintado...

O meu tio era muito vaidoso.
Era bonito e elegante, pelo que alguém o convenceu que era um "astro". Fazia ginástica em casa para desenvolver os músculos e penteava-se constantemente com todo o cuidado para estar sempre alinhado.
Era simpático e cativava quem chegava. Nem sempre agia da mesma forma com os de casa, mas como já está onde se prestam contas, isso agora não vem ao caso.
Como a minha tia era a única irmã, ainda viva, da minha mãe, juntávamo-nos nas datas festivas, como o Natal ou a Páscoa.
Naquele ano, a noite de Natal calhou ser na casa da minha tia.
Jantámos e ficámos por ali a ajudar a fritar as filhós e as fatias douradas, a pôr a mesa, a dar os últimos retoques no presépio.
Agora não é preciso essa desculpa para comprarmos trapos e mais trapos, mas nessa altura era costume vestirmos roupa nova nos dias de Festa.
A minha tia tinha mandado fazer um fato saia casaco para estrear no dia de Natal e colocara-o nas costas da cadeira no quarto.
Na hora da Missa do Galo fomos todos para a Igreja.
Muito frio e muito sono... era o que eu sentia durante a Missa. Arrefeciam-me os pés e o sono teimava em fechar-me os olhos, cabeceando de vez em vez.
A saída tão esperada lá nos acordava e a ceia era mais animada.
Eu, os meus dois irmãos e os meus quatro primos, todos de idades próximas, fazíamos barulho a tagarelar e a rir por qualquer coisa.
A certa altura, a minha tia olhou para o meu tio e perguntou: "Que estás a fazer com o meu casaco vestido?"
Olhámos todos e lá estava o meu tio com o casaco novo do fato saia casaco.
Como era da mesma cor, na hora de ir para a Missa, vestira-o sem reparar que não era o dele.
-"Por isso é que eu me senti tão apertado durante toda a noite!"
Nós riamos e o tio barafustava zangado, só de pensar na hipótese de alguém ter notado o feitio cintado do casaquinho de senhora que usara na Missa do Galo!

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