05/04/2007

Cova da Beira

Foi este o cenário que eu tive na minha infância e na minha adolescência.
Muitas árvores, muita água, muita fruta, muitas flores, muitos afectos... tempos de fartura.
A família estava toda lá, ainda. A casa enorme, sempre cheia.
A quinta era cultivada e os trabalhadores chegavam logo pela manhã em rancho barulhento de risadas do mulherio e conversas "atrevidas" dos homens. Durante o dia, ouvia-se de vez em quando uma voz feminina cantar ao longe. Era um cantar triste, que se repetia arrastado, a acompanhar o trabalho que as mãos teciam.
A Serra da Estrela do lado direito, a Serra da Gardunha do lado esquerdo.
Uma, mais magestosa, conservava durante muito tempo no cume, a neve com que era brindada na Páscoa, dando-lhe um encanto especial.
A outra, mais próxima, mais familiar, mais verde.
As nuvens formavam-se sempre primeiro na Estrela, deixando o sol acariciar a Gardunha e fazer florescer as cerejeiras.
Eram rivais, sem necessidade. Uma com a beleza da neve, no Inverno. A outra com as flores brancas e rosadas, na Primavera.
Muitas vezes penso se será a elas ou à minha juventude, que me apresso a procurar sempre que chego à Alpedrinha e as abraço com o olhar...

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