Volto a viajar para o país das minhas recordações tão distantes e tão acarinhadas pelas saudades.
Quando frequentava o Colégio, nos primeiros anos do liceu, tinha "o meu grupo", como todas as miúdas da época.
Trocávamos os nossos segredos mais íntimos, os sonhos, os medos, as alegrias e os desgostos religiosamente. Sabíamos tudo umas das outras.
Tínhamos os mesmos gostos, vestíamos da mesma maneira, usávamos o mesmo penteado, coleccionávamos as fotos dos mesmos artistas.
Nesse ano, estava no top a música dos Rolling Stones, que nós ouvíamos vezes sem conta e sabíamos de cor e salteado.
Sem tocarmos qualquer instrumento, nem sabermos cantar nada de especial, lembrámo-nos de fazer um grupo rock como o dos nossos ídolos.
Éramos meia dúzia de miúdas duma pequena cidade do interior, onde só uma ou outra mais felizarda tinha gira-discos e uns quantos singles, que recebia no dia do aniversário, mas todas com sonhos do tamanho da Serra da Estrela, nossa vizinha.
Éramos meia dúzia de miúdas duma pequena cidade do interior, onde só uma ou outra mais felizarda tinha gira-discos e uns quantos singles, que recebia no dia do aniversário, mas todas com sonhos do tamanho da Serra da Estrela, nossa vizinha.
Juntávamo-nos para ensaiar. A fama era de estudar, mas...
A Lindinha, uma das minhas amigas, vivia no 1º andar do edifício onde os pais trabalhavam - os Correios. Era ali que nos juntávamos a maioria das vezes, por ser perto do Colégio e porque os pais dela nunca estavam em casa.
A Lindinha, uma das minhas amigas, vivia no 1º andar do edifício onde os pais trabalhavam - os Correios. Era ali que nos juntávamos a maioria das vezes, por ser perto do Colégio e porque os pais dela nunca estavam em casa.
Então esfalfávamo-nos a cantar o "Satisfation". Ensaiávamos para termos a nossa banda, sentadas na cama da Lindinha, sem sabermos uma nota de música.
A mãe dela, volta e meia deixava o serviço e vinha mandar-nos calar, nervosa e contrariada com o que lhe calhava na rifa!Um dia lembrámo-nos de escrever a alguém importante para nos financiar os instrumentos (3 violas e uma bateria, como era habitual) e finalmente podermos apresentar ao público o nosso talento.
E já que era para ser a alguém importante, de quem nos fomos lembrar? Nada mais, nada menos do que do 1º ministro de Portugal, o Sr Presidente do Conselho de Ministros, o Sr. Professor António de Oliveira Salazar. Nessa altura ele ainda não tinha caído da cadeira e nós eramos novas demais para sabermos da sua importância. Era o presidente e como tal o mais indicado para nos mandar uns trocos para fundarmos o nosso grupo musical...
Que grande desilusão, quando recebemos a resposta do gabinete do Presidente do Conselho de Ministros, informando-nos que não havia verba para aqule fim!
Não havia verba... ora sim, não queriam dar-nos uma ajuda para mostrarmos o nosso grande talento, era o que era.
Quem ficou mais aliviada foi a mãe da Lindinha, que até estranhou o silêncio e se perguntou da razão de andarmos tão cabisbaixas!
Ainda hoje me rio com estas recordações.