24/02/2007

hetero-abertura


O tempo. Porquê o tempo, que Dali "retratou" num óleo imortal?.
Porque o tempo parece ser, para já, a palavra-chave da abertura deste diário.
Porque é o tempo vivido por cada pessoa individual e singular aquilo que fica duma existência humana, como testemunho e como legado.
Porque é o tempo que dá experiência, maturidade, senso - e, porque não, sabedoria - para se questionar, pensar e concluir tudo aquilo que, embora talvez visto por outros, cada par de olhos, identificado e personalizado, tem para dar a ver aos outros - aos outros no espaço, que são o outrem, e aos outros no tempo, que são o vindouro. O que se viu e não deve deixar de dar-se a ver.
Porque é o tempo que constitui aquele tesouro diferenciador dos indivíduos de cada espécie - o tempo que uns gastam e outros aproveitam, o tempo que a uns desgasta e a outros enriquece, o tempo que para uns é ócio e para outros dádiva.
Porque é o tempo aquilo por que se luta muitas vezes - pelo tempo que os outros perderam, pelo que contam, pelo tempo que não podem voltar a perder, pelo tempo que têm de aprender a não perder de novo, pelo tempo que esperam ou receiam, pelo que no tempo deles preocupa o nosso tempo, quantas vezes em tempo inteiro.
Porque é o tempo, afinal, o que mais merecemos usufruir valorizando, valorizar usufruindo.
E é isto: esta abertura, por ser uma simples hetero-abertura, é um convite e um pedido - o de nos dispensares as sobras do teu tempo, dando-nos a essência do tempo que foi e é o teu.
Boas prosas!

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